Mulheres: denúncias de agressão crescem em Salvador
Os atendimentos psico-sociais da unidade, por exemplo, cresceram, de janeiro a novembro deste ano, 229,35%, em relação a 2010, com 7.743 casos. É o maior número em oito anos. A média, no período, foi de 3.838 atendimentos anuais deste tipo.
Maridos, companheiros e namorados continuam sendo os principais agressores; o ciúme e o álcool aparecem nos atos violentos mais graves. Os dados apontam que, no país, a violência conjugal é uma das maiores causas de lesão corporal entre pacientes atendidos em pronto-socorros. As regiões do corpo da mulher mais lesionadas são face (29%), membros superiores (21%) – utilizados para a defesa do rosto – e o tórax (14%). E 63% dos casos são nos seis anos iniciais da união.
Vítima - O perfil traçado é quase a descrição da história da dona de casa Joana*, de 34 anos. Em julho de 2009, após oito anos de união, ela entrou na Deam pela primeira vez, para pedir orientação sobre como agir diante da ameaça do cônjuge. O que havia começado como violência psicológica, quatro anos antes, acabara de tornar-se possibilidade de violência física.
O motivo: o imóvel do casal. “Ele queria ficar com a casa para ter liberdade de trazer as amizades. Dizia que, por ser do interior, não tinha onde morar, e que eu tinha a casa de minha mãe. Mas eu estava desempregada e minha mãe também, e ele não”, contou. “Ele disse: ‘Se você não sair dessa casa, eu te mato. E, se falar com alguém, te bato’”, recordou.
Ela apanhou, pela primeira vez, um mês depois. Na mesma semana da agressão, sofreu uma tentativa de homicídio. “Ele pegou um pedaço de pau e tentou me atingir na cabeça, mas eu me protegi com o braço. Ainda ligou pra minha mãe e disse: ‘Venha buscar o cadáver. que eu vou matar a sua filha’”.
A indiferença policial marcou o episódio. “Minha mãe e os vizinhos ligaram para a polícia, que dizia estar encaminhando uma viatura, mas ela nunca chegou”, reclamou.
“Minha mãe chegou a me dizer que se arrependeu de não ter dito que eu estava morta, porque aí a polícia teria que ir lá de qualquer jeito”.
A única filha do casal, que à época tinha 4 anos, presenciou tudo. “Até hoje, quando ela vê um casal brigando, se assusta”, afirmou a mãe.
O caso ainda não foi resolvido na Justiça. Ela ainda vive na casa materna, em Sussuarana, enquanto o agressor ficou na casa comprada pelo casal. Após dois anos frequentando o Centro de Referência Loreta Valadares, onde recebe assistência psicológica, só agora ela começa a diluir o trauma: “Comecei há pouco tempo a namorar, mas ainda tenho um pé atrás. Saí do meu casamento sem conhecer o meu marido, após tantos anos de convivência”, disse.
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