quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Prisão de Colbert Martins Filho choca meio político

A Polícia Federal (PF), surpreendendo o meio político, prendeu ontem o secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, considerado o número 2 da pasta, de um total de 38 pessoas acusadas de envolvimento numa quadrilha especializada em desvio de dinheiro público por meio de emendas parlamentares ao orçamento da União e acabou por desencadear mais um escândalo no governo Dilma Rousseff. Indicado pelo PMDB, Costa ocupa cargos de direção na pasta desde o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre os presos na operação chamada “Voucher” estão o ex-deputado Colbert Martins Filho, secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, também indicado do PMDB e o ex-presidente da Empresa Brasileira do Turismo (Embratur), Mário Moysés, petista ligado à senadora Marta Suplicy, que comandou o ministério em 2007.  Os três tiveram prisão preventiva, com duração de 30 dias prorrogáveis pelo tempo necessário à instrução do inquérito e ficarão à disposição da Justiça na carceragem da PF no Amapá, onde o inquérito corre em segredo de justiça. 

A prisão de Colbert, no entanto, causou indignação entre os representantes baianos, independentemente de agremiação partidária. Discursos em defesa do peemedebista foram unânimes tanto na Câmara Federal quanto na Assembleia Legislativa. De acordo com o presidente estadual do PMDB, Lúcio Vieira Lima, as prisões se deram por conta de um convênio firmado pela pasta, em 2009, com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi).

“Colbert assumiu a pasta há somente quatro meses (dia 9 de abril). Portanto, está claro que tudo não passa de um verdadeiro absurdo, de uma violência jurídica. Quando ele entrou as três primeiras parcelas do convênio já haviam sido pagas, o que comprova sua inocência”, disparou, complementando que todos sabem do caráter e dignidade de Colbert.

“O PMDB, a Câmara, todos estão muito indignados com o fato. Garanto que nenhuma pessoa, por pior que seja, ficou satisfeita com esse episódio, mas tenho certeza que ele (Colbert) vai comprovar a toda leviandade que está sendo usada contra ele e sairá maior do que é dessa história”.

Assim como Lúcio, o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, uma das principais lideranças do partido no estado, não escondeu sua insatisfação e disse apenas esperar que o Brasil já esteja num patamar civilizatório em que se diga exatamente do que as pessoas estão sendo acusadas.

“O que não pode é ficar essa coisa de rolo compressor, com prisões em massa e sem que se saiba exatamente do que cada um é acusado. Mas, sou capaz de apostar que Colbert Martins nada tem a ver com essa coisa que vem de 2009.

Acontece que ele entrou de gaiato no navio. Assinou a liberação da última parcela de um convênio firmado em 2009, em relação ao qual havia pareceres favoráveis das áreas técnica e jurídica do ministério. “O que ele deveria fazer? Promover uma auditoria antes de assinar cada convênio”, questionou.

Deputados manifestam repúdio

Os deputados estaduais também não esconderam o repúdio. Leur Lomanto Jr. (PMDB), por exemplo, manifestou solidariedade e defendeu a “figura” do ex-deputado federal. “Eu o conheço bem e sei que ele é um exemplo de dignidade e honradez.

Tenho certeza que após essas denúncias serem apuradas ficará comprovado para todos que ele não teve nenhuma participação”, afirmou. Elmar Nascimento (PR) disparou que “infelizmente, a PF está fazendo pirotecnia e deixando de ser técnica para ser uma polícia política, tentando se promover às custas de homens públicos de bem, causando danos irreparáveis nos seus familiares”.

Mais além, o deputado Targino Machado (PSC) disse que não costuma colocar a mão no fogo por ninguém, “mas pela honestidade de Colbert eu boto as duas mãos”. O parlamentar disse ainda que todos os deputados deveriam ir a Feira de Santana levar solidariedade ao ex-deputado feirense. “Todos deveríamos ir a Feira esperar Colbert, para levar solidariedade, ombro, e para dizer: siga o seu caminho. Feira de Santana, a Bahia e o Brasil precisam de homens como você”.

O líder do governo da Assembleia, Zé Neto (PT), prestou solidariedade ao conterrâneo. “Reafirmamos que o nosso comprometimento é com a verdade e manifesto aqui a nossa solidariedade a Colbert, certos de que ele é inocente”.

A petista Luiza Maia disse que a história de Colbert não comporta uma acusação desse nível e relembrando a prisão do seu marido, o prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, falou da temeridade dessas ações policiais que levam “de roldão todo mundo junto, com gravíssimos prejuízos à imagem do homem público”. Por fim, o tucano Adolfo Viana, classificou como ‘irresponsabilidade’ o que a Polícia Federal vem cometendo com os homens de bem. (FC) (Tribuna da Bahia)


A deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP) é autora das duas emendas que favoreceram a entidade privada alvo de operação da Polícia Federal 


Levantamento da Câmara mostra que, em 2009, cerca de R$ 7,4 milhões em emendas de autoria de Fátima Pelaes foram destinadas a contratos de ONGs e prefeituras no Amapá com o Ministério do Turismo. Em 2010, outros R$ 7,5 milhões tiveram o mesmo destino. Entre as entidades favorecidas estão a Associação Comunitária do Estado do Amapá e as prefeituras municipais de Santana, Cutias e Oiapoque.

DesmandosO deputado Chico Alencar (PSol-RJ), autor de requerimento de informações sobre convênios do Ministério do Turismo, aponta que as emendas de Fátima Pelaes seriam apenas uma pequena parte das fraudes. “Tenho fundadas razões para acreditar que há muito mais desmando estrutural no órgão. A cúpula do ministério está toda conivente com isso. Entendo que o ministro está comprometido”, disse.

Caciques do PR, partido que foi devassado do Ministério do Transporte recentemente, afirmam que o ministro Pedro Novais (PMDB), afilhado político de José Sarney, foi “virtualmente” derrubado hoje com a operação da Polícia Federal. Mas acreditam que Novais deverá ser preservado no cargo e que existe uma clara diferença entre o tratamento que o governo tem dado às denúncias em ministérios do PMDB.

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